domingo, 23 de agosto de 2009

VII – Metabolismo e Regulação da Temperatura

1 – Metabolismo dos Carboidratos e Formação do Trifosfato de Adenosina
Grande parte das reações químicas do organismo tem por objetivo tornar
a energia dos alimentos disponível para os diversos sistemas fisiológicos
das células. A substância trifosfato de adenosina (ATP) desempenha papel-
chave ao tornar a energia dos alimentos disponível para todos estes
processos. A molécula de ATP possui dois radicais fosfato unidos ao restante
da molécula através de ligações ricas em energia.
Após a perda de um radical fosfato do ATP, o composto transforma-se
em difosfato de adenosina (ADP), e após a perda do segundo radical fosfato,
o composto resultante é o monofosfato de adenosina (AMP). O alimento nas
células é gradualmente oxidado e a energia liberada é utilizada para formar
de novo o ATP, mantendo sempre um suprimento desta substância.
O ATP é quase sempre conhecido como a moeda corrente energética do
organismo, que ele pode repetidamente ganhar e gastar. Os produtos finais
da digestão dos carboidratos no trato alimentar consistem, quase exclusivamente,
de glicose, frutose e galactose, constituindo a glicose a maior proporção
deles. Esses três monossacarídeos são absorvidos pelo sangue porta
e, do fígado, são transportados para todas as partes do corpo pelo sistema
circulatório.
Os monossacarídeos atravessam a membrana das células por difusão facilitada,
que não caracteriza transporte ativo. A velocidade de transporte
da glicose através da membrana celular é acentuadamente aumentada pela insulina,
produzida pelas células beta das ilhotas de Langerhans do pâncreas.
Imediatamente após penetrar nas células, a glicose é transformada em glicose
6-fosfato através das enzima glicoquinase, no fígado, e hexoquinase nas
demais células, envolvendo gasto de ATP.
Nas células hepáticas os demais monossacarídeos são convertidos em
glicose na sua quase totalidade. Após ser absorvida nas células, a glicose
pode ser utilizada imediatamente para a liberação de energia ou então armazenada
na forma de glicogênio no fígado e nos músculos. O processo de formação
de glicogênio denomina-se glicogênese. A glicogenólise refere-se à
degradação do glicogênio armazenado nas células para a nova formação de
glicose.
A epinefrina é liberada pela supra-renal sob estimulação simpática e
estimula a glicogenólise tornando a glicose disponível para o metabolismo
rápido. O glucagon é um hormônio secretado pelas células alfa do pâncreas
quando o nível de glicemia cai para valores baixos. Seu efeito é o de retirar
glicose do fígado para o sangue, elevando o nível de glicemia para a
faixa normal.
O meio mais importante de liberação de energia da molécula de glicose
é o processo da glicólise, na qual uma molécula de glicose forma duas de
ácido pirúvico. Apesar das numerosas reações químicas que ocorrem na série
glicolítica, são formados apenas 2 mols de ATP para cada mol de glicose
utilizada. O estágio seguinte é a conversão das duas moléculas de ácido pirúvico
em duas moléculas de Acetil Coenzima
A próxima etapa na degradação da glicose é o ciclo do ácido cítrico
ou ciclo de Krebs. Trata-se de uma seqüência de reações químicas que ocorrem
na matriz mitocondrial em que são liberadas enormes quantidades de
energia para produzir ATP. No ciclo de Krebs são liberados vários íons hidrogênio
que se combinam com o NAD para formar NADH. Em seguida, o NADH libera
hidrogênio e se transforma novamente em NAD. Durante essas alterações,
os elétrons que são removidos dos átomos de hidrogênio, produzindo sua ionização,
entram imediatamente numa cadeia de transporte de elétrons na membrana
interna da mitocôndria.
A etapa final da fosforilação oxidativa é a conversão do ADP em ATP.
Durante a glicólise são formadas duas moléculas de ATP, durante o ciclo de
Krebs duas moléculas e durante a fosforilação oxidativa são formadas trinta
e quatro moléculas de ATP. Em certas ocasiões, o oxigênio torna-se insuficiente
ou não é disponível, de modo que a oxidação celular da glicose não
pode ocorrer.
Todavia, mesmo nestas condições, uma pequena quantidade de energia
ainda pode ser liberada para as células pela glicólise, uma vez que as reações
químicas durante a degradação glicolítica da glicose a ácido pirúvico
não necessitam de oxigênio. Infelizmente, este processo desperdiça uma
grande quantidade de glicose. A formação do ácido lático durante a glicólise
anaeróbica permite a liberação de energia anaeróbica adicional.
Em condições anaeróbicas, a maior parte do ácido pirúvico é convertido
em ácido lático, que se difunde rapidamente das células para os líquidos
extracelulares e para o interior de outras células. Embora praticamente todos
os carboidratos utilizados pelos músculos sejam degradados a ácido pirúvico
pela glicólise e, em seguida, convertidos em dióxido de carbono e
átomos de hidrogênio pelo ciclo do ácido cítrico, este esquema glicolítico
e do ácido cítrico não constitui o único meio pelo qual a glicose pode ser
degradada para fornecer energia.
Existe um segundo esquema importante para a degradação da glicose,
denominado via das pentoses. A via das pentoses é especialmente importante
no fornecimento de energia e de alguns dos substratos para a conversão dos
carboidratos em gordura. Quando as reservas corporais de carboidratos diminuem
abaixo do normal, pode-se verificar a formação de glicose a partir dos
aminoácidos e dos lipídios, num processo denominado gliconeogênese. A diminuição
dos carboidratos nas células e a redução da glicemia constituem os
estímulos básicos que causam o aumento da gliconeogênese.
A liberação de glicocorticóides pelo córtex supra-renal constitui um
dos meios mais importantes de estimulo à gliconeogênese. O nível normal da
glicemia oscila em torno de 90 a 110 mg por ml de sangue e está intimamente
relacionado com a insulina e o glucagon.
2 – Metabolismo dos Lipídios
Os lipídios incluem as gorduras neutras ou triglicerídeos, os fosfolipídios,
o colesterol e outras substâncias. Os triglicerídios são utilizados
no organismo principalmente para o fornecimento de energia para os processos
metabólicos, função compartilhada com os carboidratos. Alguns lipídios,
em particular o colesterol, os fosfolipídios e pequenas quantidades
de triglicerídios são utilizados em todo o corpo para formar as membranas
de todas as células e desempenhar outras funções intracelulares.
Quase todas as gorduras da dieta são absorvidas na linfa intestinal
sob a forma de quilomícrons. Em seguida, os quilomícrons são transportados
até o ducto torácico e lançados no sangue venoso, na junção das veias jugular
e subclávia. Os quilomícrons são removidos do plasma dentro de aproximadamente
uma hora, a maior parte quando o sangue passa pelos capilares do
fígado, bem como do tecido adiposo. As membranas das células adiposas contém
grandes quantidades da enzima denominada lipoproteína lipase.
Esta enzima hidrolisa os triglicerídios dos quilomícrons em ácidos
graxos e glicerol. Os ácidos graxos, por serem altamente miscíveis nas membranas
celulares, difundem-se imediatamente no interior das células adiposas.
Uma vez no interior destas células, eles são ressintetizados em triglicerídios,
sendo o novo glicerol fornecido pelos processos metabólicos
das células adiposas. Quando os lipídios armazenados nas células adiposas
precisam ser utilizados em outras partes do corpo, geralmente para fornecer
energia, devem ser inicialmente transportados para outros tecidos.
Este transporte é feito quase totalmente sob a forma de ácidos graxos
livres, resultantes da hidrólise dos triglicerídios armazenados nas células
adiposas, produzindo novamente ácidos graxos e glicerol. Ao sair das células
adiposas, os ácidos graxos se ionizam fortemente no plasma e combinamse
de imediato com a albumina através de uma ligação frouxa, sendo liberados
nas regiões onde houver necessidade. No estado pós-absortivo, quando
não há quilomícrons no sangue, mais de 95% de todos os lipídios no plasma
encontram-se na forma de lipoproteínas, que são partículas muito menores
que os quilomícrons, porém de composição semelhante, contendo misturas de
triglicerídios, fosfolipídios, colesterol e proteína.
Os quilomícrons possuem tanto lipídios quanto lipoproteínas em seu
interior. As lipoproteínas são divididas em três classes principais: (1) as
lipoproteínas de densidade muito baixa ou VLDL, que contêm altas concentrações
de triglicerídios e concentrações moderadas de fosfolipídios e colesterol;
(2) as lipoproteínas de baixa densidade ou LDL, que contêm relativamente
poucos triglicerídios, mas porcentagem muito alta de colesterol; e
(3) as lipoproteínas de alta densidade ou HDL, que contêm cerca de 50% de
proteína, com concentrações menores de lipídios. As lipoproteínas são formadas
quase totalmente no fígado, em concordância com o fato de que a maior
parte de fosfolipídios, do colesterol e triglicerídios do plasma (à exceção
daqueles existentes nos quilomícrons) são sintetizados no fígado.
A principal função das lipoproteínas do plasma é a de transportar
seus tipos especiais de lipídios por todo o corpo. Os triglicerídios são
sintetizados principalmente a partir dos carboidratos no fígado, sendo
transportados para o tecido adiposo e outros tecidos periféricos nas VLDL.
As LDL são os resíduos das VLDL após liberação da maior parte dos triglicerídios
no tecido adiposo, deixando grandes concentrações de fosfolipídios e
concentrações moderadas de proteína. Por outro lado, as HDL transportam o
colesterol dos tecidos periféricos para o fígado; por conseguinte, este
tipo de lipoproteína desempenha papel muito importante na prevenção do desenvolvimento
da aterosclerose.
A gordura é armazenada em grandes quantidades em dois tecidos importantes
do corpo, o tecido adiposo e o fígado. A principal função do tecido
adiposo é o armazenamento dos triglicerídios até que eles sejam necessários
ao suprimento de energia em outras partes do corpo. Uma função subsidiária
é o isolamento térmico. As principais funções do fígado no metabolismo dos
lipídios são: (1) degradar os ácidos graxos em compostos pequenos para o
suprimento de energia; (2) sintetizar triglicerídios a partir dos carboidratos
e, em menor grau, das proteínas; e (3) sintetizar outros lipídios a
partir dos ácidos graxos. A degradação e a oxidação dos ácidos graxos ocorre
nas mitocôndrias para formar grandes quantidades de ATP. Toda vez que o
organismo recebe uma quantidade maior de carboidratos do que a que pode ser
utilizada imediatamente para energia ou armazenada sob a forma de glicogênio,
o excesso é rapidamente convertido em triglicerídios e, a seguir, armazenado
nesta forma no tecido adiposo.
A maior parte da síntese de triglicerídios ocorre no fígado, porém
uma diminuta quantidade também ocorre nas células adiposas. Os triglicerídios
formados no fígado são, em sua maior parte, transportados pelas VLDL
até as células adiposas, para ser armazenados até que haja necessidade de
energia. Muitos aminoácidos podem ser convertidos em acetil Co-A e esta
pode ser convertida em triglicerídios. A estimulação simpática pela adrenalina
favorece a degradação de lipídios para obtenção de energia.
O estresse estimula a liberação de corticotropina pela hipófise anterior,
que por sua vez estimula o córtex supra-renal a secretar quantidades
excessivas de glicocorticóides (principalmente cortisol) estimulando a degradação
de lipídios e produção de energia. A aterosclerose é sobretudo uma
doença das grandes artérias, caracterizada pelo aparecimento de depósitos
lipídicos, denominados placas ateromatosas, nas camadas internas das artérias.
Estas placas contêm quantidade especialmente grande de colesterol.
Num estágio mais avançado da doença, os fibroblastos infiltram-se nas
áreas em degeneração e provocam esclerose progressiva das artérias. Além
disso, ocorre quase sempre precipitação de cálcio com os lipídios, formando
placas calcificadas. O termo aterosclerose significa endurecimento das artérias.
As placas ateromatosas quase sempre se rompem na íntima e se projetam
no sangue que flui pela artéria; a aspereza de sua superfície provoca a
formação de coágulos sanguíneos, com consequente formação de trombos ou êmbolos.
Quase metade de todos os seres humanos morre em consequência de alguma
complicação de aterosclerose, cerca de dois terços dessas mortes são
provocados por trombose de uma ou mais artérias coronárias, e, um terço
restante, por trombose ou hemorragia de vasos em outros órgãos do corpo –
especialmente o cérebro, rins, fígado, trato gastrintestinal e membros.
As HDL constituem uma entidade altamente distinta das VLDL e LDL.
Elas também são formadas principalmente pelo fígado, mas têm a capacidade
de remover o colesterol dos tecidos em lugar de provocar a sua deposição
adicional. Sabe-se que pessoas com níveis sanguíneos elevados de HDL têm
menos probabilidade de desenvolver aterosclerose.
3 – Metabolismo das Proteínas
Cerca de três quartos dos sólidos corporais são formados por proteínas.
As proteínas podem ser estruturais, enzimas, proteínas transportadoras
de oxigênio, proteínas que causam a contração muscular e muitos outros tipos
de proteínas. As propriedades químicas das proteínas são tão extensas
que constituem grande parte de toda a bioquímica.
Os principais componentes das proteínas são os aminoácidos, 20 dos
quais estão presentes no corpo em quantidades significativas. Destes 20
aminoácidos, metade são aminoácidos essenciais que não podem ser sintetizados
de forma alguma ou então em quantidades suficientes no corpo. O uso do
termo essencial não significa que os outros 10 aminoácidos não sejam igualmente
essenciais para a formação de proteínas, mas apenas que esses outros
não são essenciais na dieta. Nas proteínas, os aminoácidos são agregados em
longas cadeias por meio das denominadas ligações peptídicas. Na ligação
peptídica, o radical amino de um aminoácido combina-se com o radical carboxila
do outro aminoácido.
Ocorre a liberação de um íon hidrogênio do radical amino, enquanto
uma hidroxila é liberada do radical carboxila; ambos combinam-se para formar
uma molécula de água. Muitas proteínas altamente complexas são fibrilares,
sendo denominadas proteínas fibrosas. Os principais tipos de proteínas
fibrosas são os colágenos, que constituem as proteínas estruturais básicas
do tecido conjuntivo, tendões, cartilagem e osso; as elastinas, que formam
as fibras elásticas dos tendões, artérias e tecido conjuntivo; as queratinas,
proteínas estruturais do cabelo e das unhas; e a actina e a miosina,
que são as proteínas contráteis dos músculos. Depois de serem absorvidos
pelo trato gastrintestinal, os aminoácidos são levados pelo sangue às células.
Quase imediatamente após sua entrada nas células, os aminoácidos são
conjugados em proteínas celulares sob a influência de enzimas celulares.
Toda vez que a concentração plasmática de aminoácidos cai abaixo de seu nível
normal, ocorre transporte de aminoácidos para fora das células a fim de
repor os suprimentos no plasma. Simultaneamente, verifica-se a degradação
de proteínas intracelulares em aminoácidos. Alguns tecidos corporais participam
em maior grau do que outros no armazenamento de aminoácidos.
Assim, o fígado, que é um grande órgão dotado de sistemas especiais
para o processamento de aminoácidos, armazena grandes quantidades de proteínas
lábeis. Os três tipos principais de proteínas presentes no plasma
são a albumina, a globulina e o fibrinogênio. A principal função da albumina
é promover a pressão coloidosmótica no plasma que, por sua vez, impede a
perda de líquidos plasmáticos dos capilares. Entre as funções das globulinas,
destaca-se a imunidade contra organismos invasores.
O fibrinogênio polimeriza-se durante a coagulação sanguínea, formando
coágulos sanguíneos que ajudam a reparar vazamentos no sistema circulatório.
Praticamente todas as proteínas plasmáticas, albumina, fibrinogênio e
metade das globulinas são formadas no fígado. O restante das globulinas é
sintetizado nos tecidos linfóides e na medula óssea.
Trata-se principalmente das gamaglobulinas, que constituem os principais
anticorpos do sistema imune. As proteínas são sintetizadas em todas as
células do corpo e as características funcionais de cada célula dependem
dos tipos de proteína que ela é capaz de sintetizar. Quando a pessoa não
ingere nenhuma proteína, certa proporção de suas proteínas corporais continua
a ser degradada em aminoácidos.
4 – Energética, Metabolismo e Regulação da Temperatura Corporal
Os carboidratos, os lipídios e as proteínas podem ser utilizados pelas
células para sintetizar grandes quantidades de ATP, que por sua vez é
usado como fonte de energia para as funções celulares. As principais funções
das moléculas de ATP são energizar a síntese de substâncias celulares
importantes, a contração muscular e o transporte ativo através das membranas
para absorção pelo trato gastrintestinal, pelos túbulos renais, formação
de secreções glandulares e estabelecimento de gradientes de concentração
iônica nos nervos, que por sua vez fornecem energia necessária para a
transmissão de impulsos nervosos.
Apesar da suma importância do ATP para a transferência de energia,
essa substância não constitui o depósito mais abundante de ligações de fosfato
de alta energia nas células. A fosfocreatina contém ligações fosfato
de alta energia várias vezes mais abundante, pelo menos no músculo. Ao contrário
do ATP, a fosfocreatina não pode atuar como agente de acoplamento
direto para transferência de energia entre os alimentos e os sistemas celulares
funcionais.
Todavia, ela é capaz de transferir energia de modo intercambiável com
o ATP. Quando quantidades adicionais de ATP estão disponíveis na célula,
grande parte dessa energia é utilizada na síntese de fosfocreatina, formando
assim um reservatório de energia. Quando o ATP começa a ser consumido, a
energia existente na fosfocreatina é rapidamente transferida de volta ao
ATP e, a seguir, deste para os sistemas funcionais das células.
Este efeito mantém a concentração de ATP num nível quase máximo enquanto
houver fosfocreatina no interior das células. Assim, podemos também
denominar a fosfocreatina como um sistema “tampão” do ATP. A energia dos
alimentos é quase sempre convertida em calor corporal, uma vez que o trabalho
desenvolvido através do uso da energia gera calor. É o caso do calor
produzido através do exercício muscular e do movimento cinético das moléculas
através do sistema circulatório.
Por consequência, a determinação da produção de calor corporal constitui
uma excelente maneira de estudar o metabolismo geral do corpo. A caloria
é a unidade empregada para esta finalidade.
Os principais fatores que afetam o metabolismo corporal são o exercício,
o hormônio tireóideo tiroxina e a estimulação simpática. O metabolismo
basal funciona como método para comparar as intensidades metabólicas entre
indivíduos, medindo a intensidade metabólica inerente dos tecidos, independentemente
do exercício e de outros fatores externos que tornariam impossível
a comparação do metabolismo de uma pessoa com o de outra.
O nível de temperatura considerado normal varia entre 36,5 a 37 graus
Celsius, embora cada pessoa deva ser avaliada em relação às temperaturas
dos demais sistemas orgânicos. A pele, os tecidos subcutâneos e, sobretudo,
a gordura dos tecidos subcutâneos constituem um isolante térmico do organismo.
Através do fluxo sanguíneo, ocorre constante transferência de calor
do centro do corpo para a pele. Assim, a pele constitui, obviamente, um
sistema “radiador” eficaz para o corpo.
Os principais processos pelos quais ocorre perda de calor da pele
para o meio ambiente incluem a radiação, a condução, a convexão e a evaporação.
A irradiação ocorre na forma de raios térmicos infravermelhos que
são ondas eletromagnéticas que se irradiam da pele para o meio ambiente
mais frio. Representa 60% da perda total de calor. A condução representa
perda pequena e ocorre da superfície do corpo para objetos mais frios. A
convexão ocorre a partir de correntes aéreas. A evaporação contribui com as
perdas insensíveis de água através da pele e dos pulmões.
Quando o corpo torna-se superaquecido ocorre secreção de grandes
quantidades de suor na superfície da pele pelas glândulas sudoríparas a fim
de produzir rápido esfriamento do corpo por evaporação. A estimulação da
área pré-óptica na parte anterior do hipotálamo estimula a sudorese. Os impulsos
provenientes desta área e que induzem a sudorese são transmitidos
nas vias autonômicas para a medula e, daí, através do fluxo simpático, para
as glândulas sudoríparas da pele de todo o corpo. As fibras nervosas simpáticas
colinérgicas que terminam nas células glandulares desencadeiam a secreção.
A temperatura do corpo é regulada quase totalmente por mecanismo de
controle nervoso por feedback, com quase todos eles operando através de um
centro termorregulador localizado no hipotálamo. Quando o corpo se torna
superaquecido, o hipotálamo aumenta a velocidade de perda de calor através
de dois mecanismos principais que são a evaporação através das glândulas
sudoríparas e a inibição dos centros simpáticos no hipotálamo posterior,
que normalmente provocam constrição dos vasos cutâneos; esta inibição permite
a ocorrência de vasodilatação, com consequente e acentuado aumento na
perda de calor pela pele.
Quando ocorre resfriamento do corpo, o hipotálamo posterior ativa
fortemente os sinais simpáticos para os vasos cutâneos e ocorre intensa
vascularização da pele por todo o corpo. Os calafrios ou tremores podem aumentar
a produção de calor em até cinco vezes o normal. O controle comportamental
da temperatura corporal ocorre através da comunicação da área préóptica
do hipotálamo com a área pré-central, transmitindo uma sensação psíquica
de superaquecimento, o que faz o indivíduo procurar um ambiente mais
frio.
Por outro lado, toda vez que o corpo se torna muito frio, o indivíduo
faz ajustes ambientais apropriados para restabelecer a sensação de conforto
como procurar uma sala aquecida. Para os seres humanos, trata-se do único
mecanismo realmente eficaz para o controle do calor corporal em ambientes
que apresentam temperaturas extremas.
Após secção da medula espinhal no pescoço, acima do nível em que os
nervos simpáticos saem da medula, a regulação autonômica da temperatura
corporal torna-se quase inexistente, visto que o hipotálamo não pode mais
controlar o fluxo sanguíneo cutâneo ou o grau de sudorese em qualquer área
do corpo. A febre, que significa uma temperatura corporal acima da faixa
normal, pode ser provocada por anormalidades no próprio cérebro, por substâncias
tóxicas que afetam os centros termorreguladores, por doenças bacterianas,
por tumores cerebrais ou por desidratação.
Os pirógenos bacterianos elevam o ponto de ajuste do termostato hipotalâmico.
A aspirina mostra-se especialmente eficaz para reduzir o ajuste
hipotalâmico elevado em consequência de pirógenos, mas não produz redução
para a temperatura normal.
5 – Balanço Dietético, Regulação da Alimentação, Obesidade e Vitaminas
A ingestão de alimento deve ser sempre suficiente para suprir as necessidades
metabólicas do corpo, sem contudo ser excessiva para causar obesidade.
O termo fome refere-se a um desejo de alimento que está associado a
diversas sensações objetivas. O termo apetite é quase sempre utilizado no
mesmo sentido de fome, exceto que geralmente implica desejo por tipos específicos
de alimento e não de alimento em geral.
A saciedade é o oposto da fome. A estimulação do hipotálamo lateral
faz um animal se alimentar vorazmente, enquanto a estimulação do núcleo
ventromedial do hipotálamo produz saciedade completa, mesmo na presença de
alimentos muito apetitosos. Por outro lado, a lesão destrutiva dos núcleos
ventromediais produz exatamente o mesmo efeito da estimulação dos núcleos
laterais do hipotálamo. As lesões dos núcleos laterais do hipotálamo causam
ausência completa de desejo de alimento e inanição progressiva do animal.
Por conseguinte, podemos designar os núcleos laterais do hipotálamo
como o centro da fome ou da alimentação e os núcleos ventromediais do hipotálamo
como o centro da saciedade. A mecânica da alimentação é toda controlada
por centros situados na parte inferior do tronco encefálico. A função
do centro da fome no hipotálamo é controlar a quantidade de alimento ingerido
e excitar os centros inferiores para a atividade.
Os centros superiores em relação ao hipotálamo também desempenham importante
papel no controle da alimentação, sobretudo no controle do apetite.
Estes centros incluem especialmente a amígdala e algumas áreas corticais
do sistema límbico, todas elas estreitamente acopladas ao hipotálamo.
O efeito mais importante da destruição da amígdala em ambos os lados do cérebro
é uma “cegueira psíquica” na escolha de alimentos.
Em outras palavras, o animal (e presumivelmente também o ser humano)
perde por completo, ou pelo menos parcialmente, o mecanismo de controle do
apetite sobre o tipo e a qualidade do alimento ingerido. O centro de alimentação
no hipotálamo está ligado ao estado nutricional do corpo. Assim,
um indivíduo que está desnutrido apresenta maior desejo alimentar enquanto
um indivíduo que está superalimentado geralmente não tem fome. A obesidade
é obviamente causada pelo suprimento excessivo de energia em relação a seu
consumo.
O suprimento excessivo de energia só ocorre durante a fase de desenvolvimento
da obesidade; quando o indivíduo já se tornou obeso, tudo o que
é necessário para que permaneça obeso é que o suprimento de energia seja
igual a seu consumo. Cerca de um terço da energia utilizada diariamente por
uma pessoa normal destina-se à atividade muscular.
Dessa forma, pode-se afirmar que a obesidade quase sempre decorre de
uma relação muito estreita entre a ingestão de alimento e o exercício diário.
Na maioria das pessoas obesas, ao contrário do que se podería esperar,
a ingestão de alimento não diminui de forma automática até que o peso corporal
esteja bem acima do normal. Por consequência, a obesidade é geralmente
provocada por alguma anormalidade no mecanismo regulador da ingestão de
alimento.
Pode resultar de fatores psicogênicos que afetam a regulação ou de
verdadeiras anormalidades no próprio hipotálamo. A obesidade possui definitivamente
uma incidência familiar. A velocidade de formação de novas células
adiposas é especialmente rápida nos primeiros anos de vida, e quanto
maior o grau de armazenamento de gordura, maior o número de células adiposas.
Depois da adolescência, o número de células adiposas permanece quase o
mesmo durante todo o restante da vida. Por conseguinte, a alimentação excessiva
de crianças pode resultar em obesidade pelo resto da vida.
Entre os que se tornam obesos na meia-idade ou na idade avançada,
grande parte decorre da hipertrofia das células adiposas já existentes.
Este tipo de obesidade é mais suscetível ao tratamento do que o tipo permanente.
Embora os tecidos utilizem de preferência os carboidratos para produção
de energia em lugar dos lipídios e das proteínas, a quantidade de
carboidratos normalmente armazenada em todo o corpo é de apenas algumas
centenas de gramas (principalmente na forma de glicogênio no fígado e músculos),
podendo suprir a energia total necessária para o funcionamento do
organismo durante apenas cerca de metade de um dia. Por conseguinte, exceto
nas primeiras horas de inanição, o principal efeito é a depleção progressiva
dos lipídios e das proteínas teciduais.
A vitamina é um composto orgânico necessário em pequenas quantidades
para o metabolismo normal do corpo, mas que não pode ser produzida nas células
corporais. Quando faltam na dieta, as vitaminas podem provocar déficits
metabólicos específicos. Os precursores da vitamina A são encontrados
em abundância em muitos alimentos de origem vegetal. Trata-se dos pigmentos
carotenóides amarelhos e vermelhos que, por terem estruturas químicas semelhantes
à da vitamina A, podem ser convertidos nesta vitamina no corpo humano.
No organismo, a vitamina A existe principalmente na forma de retinol.
A deficiência de vitamina A manifesta-se principalmente através da
descamação de pele e queratinização da córnea causando opacificação e cegueira.
A tiamina ou vitamina B1 atua nos sistemas metabólicos do organismo
na descarboxilação do ácido pirúvico. Por consquência, a tiamina é especificamente
necessária para o metabolismo final dos carboidratos e de muitos
aminoácidos. A deficiência de tiamina pode causar alterações no sistema
nervoso como a degeneração das bainhas de mielina chegando a ponto de resultar
em paralisia, enfraquece o músculo cardíaco levando à insuficiência
cardíaca levando ao edema periférico e à ascite, leva à indigestão, anorexia,
atonia gástrica e hipocloridria. Este conjunto de sintomas, principalmente
os cardiovasculares, são denominados beribéri.
A niacina ou ácido nicotínico atua no organismo como coenzima na forma
de nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e fosfato de nicotinamida
adenina dinucleotídeo (NADP) e sua deficiência pode causar múltiplos sintomas.
A deficiência de riboflavina ou vitamina B2 provoca dermatite nas narinas
e na boca e queratite da córnea com invasão por pequenos vasos sanguíneos.
A deficiência de vitamina B12 provoca anemia perniciosa, em que os
eritrócitos não sofrem maturação adequada e são portanto rapidamente destruídos
no sistema circulatório.
O ácido ascórbico é essencial para ao crescimento do tecido subcutâneo,
cartilagem, osso e dentes. A deficiência de ácido ascórbico provoca
escorbuto, caracterizado por deficiência na cicatrização de feridas, cessação
do crescimento ósseo e fragilidade nas paredes dos vasos sanguíneos. A
vitamina D aumenta a absorção de cálcio no trato gastrintestinal e ajuda a
controlar a deposição de cálcio no osso. A ausência de vitamina E pode causar
problemas relacionados à esterilidade. A vitamina K é necessária para a
formação de fatores da coagulação sanguínea. Sua ausência pode causar deficiência
nos processos de coagulação sanguínea.

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